Hoje celebramos o Dia Internacional da Mulher – ocasião pertinente para checarmos a situação das mulheres na ciência alemã. Em setembro do ano passado, a Academia Nacional de Ciências Leopoldina publicou uma Recomendação Nacional intitulada “Women in science: developments and recommendations (2022)”. Para este post, extraímos os trechos mais relevantes dessa publicação, com o objetivo de apresentar um panorama da igualdade de gênero nas instituições alemãs.
O documento é introduzido com um breve relato histórico sobre a participação de mulheres na ciência alemã e, em seguida, apresenta uma análise da situação atual – que infelizmente está longe de ser ideal. Uma série de gráficos expõe a proporção de mulheres nos diferentes níveis da carreira e tipos de instituições; a ocupação feminina em posições de liderança e enquanto membros das academias científicas do país, bem como a quantidade de laureadas com o prêmio Leibniz (considerado o “prêmio Nobel alemão”).
Segundo o diagnóstico da Leopoldina, o número de mulheres que deixam a academia depois de concluir o doutorado é muito maior em relação à parcela masculina. Entre aqueles que acabam de completar a habilitação (equivalente á livre-docência no Brasil), apenas cerca de um terço são mulheres, e esta sub-representação aumenta de acordo com ascensão na carreira: quanto mais alto o cargo na hierarquia científica, menos mulher há.
Entre os fatores – estruturais e circunstanciais – que contribuem para esse quadro, o documento enumera:
- um enviesamento, geralmente mais internalizado do que explícito, que dificulta o recrutamento, valorização e promoção das mulheres cientistas, reforçado pelo domínio dos homens em posições de liderança, em órgãos institucionais de tomada de decisão e nas redes de acadêmicos;
- uma cultura científica que muitas vezes valoriza e recompensa a vontade e a capacidade de cooperar menos do que a assertividade em situações competitivas;
- um desequilíbrio de reputação, uma vez que as pesquisas conduzidas por mulheres frequentemente têm temáticas menos valorizadas que as dos homens e, como resultado desse preconceito, as conquistas das mulheres são menos reconhecidas;
- uma carga desproporcional que mulheres cientistas acumulam com trabalho administrativo em comitês e comissões acadêmicas;
- a falta de transparência sobre a progressão de carreiras acadêmicas após o doutorado, o que maximiza incertezas e reduz significativamente perspectivas de planejamento a longo prazo;
- a ausência de modelos a seguir, o que tem um impacto negativo na autoconfiança e motivação das mulheres;
- a distribuição tradicional de tarefas e funções na família e relacionamentos afetivos: as mulheres ainda – e ainda mais desde a pandemia – assumem a maior parte do trabalho familiar em uma fase da vida na qual o futuro da carreira acadêmica está sendo definido. A isto soma-se uma infraestrutura inadequada de creches, escolas e instituições de apoio para parentes com necessidades especiais e idosos, sobrecarregando as mulheres em seus recursos mentais, além de limitar seu tempo e mobilidade geográfica.
Para mudar esta situação, a Leopoldina recomenda medidas específicas em quatro vertentes:
- Transformar as estruturas
- Empoderar mulheres
- Dar visibilidade às mulheres
- Documentar progressos e revisar o desenvolvimento relacionado à igualdade de gênero
Se você quiser saber detalhes sobre as medidas recomendadas pela Leopoldina, acesse o documento completo “Women in science: developments and recommendations (2022)”, disponível aqui em inglês.
Você sabia? Universidades e institutos de pesquisa costumam ter uma funcionária, geralmente mulher, responsável por cuidar de assuntos como igualdade de gênero, conciliação da vida familiar e profissional e proteção contra o assédio sexual no local de trabalho. Na maioria das instituições esta posição se chama “Gleichstellungsbeauftragte/r”.
Quais são suas experiências como pesquisador/a na Alemanha a respeito deste tema? Compartilhe conosco suas impressões nos comentários abaixo.
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